O crescimento do mercado global de climatização e refrigeração traz consigo o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes e menos agressivas ao meio ambiente.
Todavia, esta expansão estimula a criação de um “mercado pirata” de fluidos frigoríficos, óleos, aditivos químicos e outros insumos. É aí que mora um grande perigo.
“A utilização de produtos de origem desconhecida e duvidosa requer muito cuidado e atenção. Atualmente, o Brasil passa por um momento delicado, com crise política e financeira, e esses fatores são responsáveis pelo surgimento de alternativas desesperadoras que obrigam a tomada de decisões suicidas”, diz o engenheiro de refrigeração e ar condicionado Elcio Monteiro, do Makro Atacadista.
Segundo o profissional, a todo o momento a rede recebe e-mails e telefonemas de empresas oferecendo produtos que fazem milagres, como redução do consumo de energia em 30%, melhor rendimento etc.
“Para não cair em contos de fada, o melhor a fazer é consultar órgãos certificados, fabricantes de componentes e também os companheiros de profissão”, salienta.
Realizada de modo irregular, a manipulação de produtos químicos pode acarretar diversos prejuízos, colocando em risco o meio ambiente, a saúde e até a vida do cliente ou do técnico responsável pelo serviço.
“Além do incorreto manuseio, existe a possibilidade de o mecânico sofrer, por exemplo, uma queimadura ao realizar uma solda na tubulação que contenha resquícios de um fluido não adequado, podendo até gerar explosão se estiver em ambientes confinados”, avisa o professor Fabio Pinto de Arruda, do curso de refrigeração, ventilação e ar condicionado da Fatec Itaquera.
De acordo ele, outros riscos devem ser destacados, especialmente os constantes retrabalhos dos serviços já prestados e finalizados.
“Provavelmente, quando se utiliza um fluido inadequado numa instalação, além da dificuldade inicial de regulagem do sistema, haverá uma maior incidência nos chamados para manutenção, além da diminuição da vida útil de seus componentes”, reitera.
Fluidos refrigerantes adulterados e outros produtos de origem desconhecida ameaçam a saúde e a segurança dos refrigeristas
Qualidade atestada
A chancela de normas, certificações e de selos de qualidade é o caminho para garantir a confiabilidade e o perfeito funcionamento dos sistemas de refrigeração e ar condicionado, conforme avaliam especialistas do setor.
O registro em órgãos competentes, por sua vez, avaliza a qualidade, inibe a má utilização e controla os processos entre a fabricação e a venda ao usuário final.
Entre as normas e certificações mais relevantes para o HVAC-R estão os textos da Associação Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar Condicionado (Ashrae), as regulações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e os selos Procel/Inmetro, Leed, Acqua, entre outras.
É fato notório que, no mundo todo, não existe produto homologado sem que o fabricante e seu produto sejam certificados de alguma forma.
“As certificações são procedimentos fundamentais que garantem aos operadores do mercado e usuários finais níveis mínimos de segurança e confiabilidade. Isto é indiscutível”, observa Kiko Egydio, diretor de operações da K11, importadora o aditivo selante Tapa Fugas K11.
“Volto a dizer: elas estabelecem os padrões mínimos de qualidade segura e eficaz, e não o máximo”, reforça.
Kiko Egydio, diretor de operações da importadora K11
De acordo com o gerente de negócios internacionais da Spectronics, Daniel Tristan, os contrastes fluorescentes ou aditivos químicos injetados em sistemas de refrigeração precisam, por exemplo, ser submetidos a testes para comprovar sua estabilidade química para os sistemas frigoríficos.
No caso específico da linha de contrastes da marca, eles são os únicos do mercado com a NSF, certificação que atesta sua segurança para sistemas de refrigeração instalados em linhas de produção de alimentos. “É a nossa linha com maior qualidade e quantidade de aprovações de OEMs”, diz.
Na avaliação de Arthur Ngai e Renato Cesquini, ambos gerentes de produtos fluorados da Chemours, o seguimento das normas proporciona a evolução e o desenvolvimento do setor de maneira mais sustentável.
“A conscientização dos profissionais sobre a importância de se utilizar produtos seguros e confiáveis é fundamental”, diz Ngai.
Cesquini alerta que diversos fluidos refrigerantes de origem duvidosa se encaixam na classificação de toxicidade e/ou inflamabilidade da Ashrae.
“Além disso, muitos possuem altas taxas de umidade, bem como a presença de partículas sólidas, o que pode danificar toda a tubulação e/ou o compressor, provocando, em alguns casos, o vazamento do fluido”, acrescenta.
Para o gerente geral da Shrieve do Brasil, Paulo Frare, os profissionais do setor também precisam avaliar com atenção a procedência dos lubrificantes utilizados nos equipamentos de refrigeração e condicionamento de ar.
“Esse controle é fundamental para garantir a qualidade e o atendimento às especificações técnicas recomendadas pelos fabricantes de compressores”, aconselha.
Arthur Ngai, gerente de produtos fluorados da Chemours
Decisão de compra
Todos sabem que fabricantes, distribuidores e prestadores de serviços ligados ao HVAC-R podem tirar proveito das mais diversas padronizações e certificações adotadas pelo setor para elevar a competitividade de seus negócios.
“Ter um produto ou serviço certificado é um diferencial em um mundo tão competitivo como o nosso. Com a certificação, a organização apresenta um valor agregado à sua oferta, reduz riscos de qualidade e melhora a imagem no setor”, afirma o engenheiro Leonardo Cozac, diretor da Conforlab Engenharia Ambiental.
Muitos clientes e empresas do setor ainda não perceberam a importância das certificações e acabam comprando ou fornecendo produtos e/ou serviços sem a mínima garantia de qualidade.
Levantamento do Departamento de Economia e Estatística da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) revela que 20% dos consumidores do HVAC-R preferem comprar levando em consideração o preço do equipamento ou da prestação de serviço.
Outros quesitos ligados à qualidade, entretanto, ainda são relegados a segundo plano pelos entrevistados na hora de formalizar a compra – consumo de energia (12%), loja e garantia (10%), tecnologia envolvida (9%) e impacto ambiental (5%).
“Acredito que há diversos tipos de consumidores, desde aqueles que prezam pela qualidade e estão dispostos a pagar mais por um produto e serviço certificado até aqueles que querem apenas preço”, argumenta Cozac, que também representa a Abrava na Ashrae, AHRI, IAQA, ACCA e em outras entidades do setor.
O executivo ressalta que, atualmente, acordos de cooperação para certificações estão sendo negociados entre o Brasil e os Estados Unidos, para validar testes e ensaios feitos em ambos os países, reciprocamente.
“Será mais fácil, por exemplo, uma empresa fabricante de produtos químicos, com testes de eficiência e toxicidade, feito em um país, conseguir aceitação e realizar a comercialização no outro. Esses acordos são de longo prazo, devido à complexidade de interesses e discussões técnicas”, explica.
Leonardo Cozac, diretor da Conforlab
Reportagem publicada pelo Blog do Frio em 29/7/17